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Doença de Parkinson e a influência das atividades físicas 

Mestre e doutora em Ciência pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, coordenadora do Departamento Científico de Transtornos do Movimento da ABN,2016-2018, Chien Hsin Fen discorre, na entrevista a seguir, sobre o artigo Long-term Effect of Regular Physical Activity and Exercise Habits in Patients With Early Parkinson Disease-https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gOv/35022304/.

Além de analisar os efeitos da atividade física regular em pacientes com doença de Parkinson precoce, ela coloca em debate seu parecer sobre a validade do estudo. Imperdível.

Por que estudar o exercício físico especificamente na doença de Parkinson (DP)? O que estudos prévios mostravam sobre o papel do exercício físico em DP?

A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa e até o presente momento não temos nenhum método protetor ou modificador que previna ou retarde a sua progressão, portanto estudos sobre drogas, procedimentos ou terapias que possam intervir nesse sentido são muito importantes. Nos últimos anos, tem se demonstrado que a prática regular de atividade física traz benefícios para várias doenças neurológicas como esclerose múltipla, acidente vascular cerebral, doença de Alzheimer. A atividade física melhora a função motora e cognitiva na DP, isto sendo observado tanto em estudos clínicos quanto em modelos animais. Esses efeitos benéficos são resultado da neuroplasticidade induzida pela prática de exercício regular e cognitivamente estimulante. Desta forma, é importante incorporar atividade física que seja objetivo-direcionado, com aprendizado por reforço positivo, desafiadora, motivacional e de fácil prática para pacientes com DP (Petzinger Et al, 2013). Em estudos epidemiológicos observou-se que no grupo de pessoas que fizeram exercícios moderados a vigorosos, no passado, tinham menor ocorrência da DP, equiparados pela faixa etária, aos que não se exercitavam. Este fato sugere que a atividade física pode ter algum papel neuroprotetor e retardar manifestação/ progressão da doença (Xu et al, 2010). Além disso, tem se mostrado que o exercício físico melhora o equilíbrio, marcha e qualidade de vida dos pacientes (Chen et al 2021). A fim de orientar uma atividade física adequada, muitos autores têm concentrado esforços para identificar quais modalidades de exercício, frequência, duração, intensidade, e intervalo seriam mais apropriados para pacientes com DP (Kim et al, 2019), entretanto ainda não temos um consenso definitivo sobre a prescrição dos exercícios. Há ainda muitas perguntas sem respostas, como por exemplo: se os benefícios do exercício seriam duradouros e a longo prazo, e se o efeito abrangeria todos os estágios da doença? No recente artigo intitulado Long-term Effect of Regular Physical Activity and Exercise Habits in Patients with Early Parkinson Disease publicado na revista Neurology2022;98:e859-e871, Tsukitae colaboradores tentam responder a essas perguntas estudando pacientes com DP e que fizeram atividade física moderada a vigorosa num período de 5 anos.

Como foi o desenho da metodologia deste estudo?

O estudo foi retrospectivo, longitudinal e observacional utilizando dados obtidos de um grande estudo multicêntrico em andamento, The Parkinson’s Progression Markers Initiative. Os autores analisaram 237 pacientes com DP inicial, média de idade de 63 anos, acompanhados por um período médio de 5 anos. Os pacientes preencheram o questionário PASE (Physical Activity Scale for the Elderly) para relatar a intensidade, frequência e duração da atividade física na semana anterior à avaliação. Os autores utilizaram esse questionário e analisaram o efeito da interação entre a prática de atividade física moderada a vigorosa em relação aos parâmetros de progressão da DP, ajustados com idade, sexo, dose de equivalência de levodopa e duração da doença.

No estudo, atividade física foi associada a um benefício aos pacientes com

DP? Se sim, quais? 

Observou-se que a prática regular, sustentada e intensa de atividade física não afetou a progressão da doença, mas foi associada a uma diminuição da gravidade de vários parâmetros da DP. Os autores também observaram que a prática sustentada de exercício a longo prazo foi o principal fator para a melhora do curso clínico na DP, e não a condição física do paciente quando ele foi incluído no estudo multicêntrico. Diferentes tipos de atividade física resultaram em diferentes efeitos no quadro clínico da doença, deste modo, a atividade física moderada a vigorosa esteve associada com a diminuição do declínio da postura e marcha; atividades relacionadas ao trabalho resultaram em diminuição do declínio da velocidade de processamento psicomotor e atividades físicas correlacionadas com a vida cotidiana diminuíram o declínio para as atividades de vida diária. Portanto, para a prática clínica é importante orientar os pacientes com DP a realizarem diferentes tipos de atividades físicas para podermos obter benefícios sobre os diferentes aspectos da DP.

Este estudo tem limitações? Caso as tenha, quais aponta?

As limitações deste estudo podem ser listadas em: 1) por ser um estudo observacional, os resultados são dedutivos e não podemos definir causa-efeito; 2) o questionário PASE é um auto questionário e, portanto, depende do relato do entrevistado 3) pelos dados serem extraídos de um grande estudo multicêntricos, não se pode garantir a uniformidades dos dados coletados; 4) o estudo apenas inclui pacientes em estágio inicial da doença e portanto não podemos abstrair esses resultados para pacientes com estágios mais avançados da doença.

REFERÊNCIAS

Chen J, Chien HF, Francato DCV, Barbosa AF, Souza CO, Voos MC. Greve

JMD. Barbosa ER. Effects of resistance training on postural control in Parkinson’s

disease: a randomized controlled trial. Ara Neuropsiquiatr. 2021 Jul 5:50004-

282X2021005014102. doi:10.1590/0004-282X-ANP-2020-0285.

Kim Y, Lai B, Mehta T, Thirumalai M, Padalabalanarayanan S, Rimmer JH, Motl

RW. Exercise Training Guidelines for Multiple Sclerosis, Stroke, and Parkinson Dis

ease: Rapid Review and Synthesis. Am J Phys Med Rehabil. 2019 Jul:98(7):613-621.

doi:10.1097/PHM.0000000000001174.

Petzinger GM, Fisher BE, McEwen S, Beeler JA, Walsh JP, Jakowec MW. Exercise-en-

hanced neuroplasticity targeting motor and cognitive circuitry in Parkinson’s disease.

Lancet Neurol. 2013 Jul;12(7):716-26. doi: 10.1016/S1474-4422(13)70123-6.

Tsukita K, Sakamaki-Tsukita H, Takahashi R. Long-term Effect of Regular Physical

Activity and Exercise Habits in Patients With Early Parkinson Disease. Neurology.

2022 Feb 22:98(8):e859-e871. doi: 10.1212/WNL.0000000000013218.

Xu Q, Park Y, Huang X, Hollenbeck A, Blair A, Schatzkin A, Chen H. Physical

activities and future risk of Parkinson disease. Neurology. 2010 Jul 27;75(4):341-8

doi:10.1212/WNL.0b013e3181ea1597.

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