Os benefícios de montar a cavalo são datados do período antes de Cristo. Contudo, cresceu o número de evidências científicas sólidas quanto às finalidades terapêuticas.
O Brasil é destaque como um dos países que mais contribui para avanços nesse campo. Estudos nacionais recentes confirmam os ganhos à saúde da equoterapia, nome com o qual a prática é difundida por aqui.
Montar a cavalo favorece diversos diagnósticos e condições de saúde, como paralisia cerebral, parkinson, acidente vascular encefálico e esclerose múltipla. Em 2020, aliás, tese de Doutorado foi desenvolvida sobre os bons resultados da equoterapia para pacientes com EM, uma vez que a literatura já apontava efeitos positivos.
Os resultados do estudo (https://bit. ly/3rV4fzo) corroboraram pesquisas anteriores, além de agregar conhecimentos originais como as melhorias nos parâmetros espaço-temporais da marcha após a prática de 16 sessões de equoterapia.
Para comentar o tema, o ABNews entrevista a autora do estudo. Com a palavra a fisioterapeuta Andréa Gomes Moraes, com mestrado e doutorado pela Universidade de Brasília, e professora da Equoterapia da Polícia Militar do Distrito Federal. Confira.
Por que utilizar a equoterapia em vez das terapias de habilitação convencionais? Quais os principais ganhos que o paciente pode ter em relação às outras terapias?
A equoterapia segundo a ANDE-BRASIL, Associação Nacional de Equoterapia, é um método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou limitações.
É uma terapia multimodal em que por meio do movimento do cavalo e do ambiente terapêutico proporciona uma estimulação global do paciente que participa ativamente do seu processo de reabilitação. A partir do momento que o paciente se encontra montado no dorso do cavalo ele é constantemente estimulado devido aos deslocamentos provocados pelo movimento do cavalo que provoca ajustes tônicos e posturais no paciente.
As atividades com enfoque nos resultados terapêuticos a partir das necessidades individuais do paciente são realizadas de um modo aprazível e bastante funcional, por exemplo, é possível fortalecer a musculatura de abdômen e paravertebral realizando aclives e declives com o cavalo, ou fortalecer membros inferiores ficando em pé sobre os estribos, além de equilíbrio e coordenação, autoestima ao se conduzir o cavalo, um animal que traduz força e imponência. O ambiente não clínico e bastante rico para estimulação sensorial também favorece a obtenção de resultados positivos, além da interação com o animal e a motivação em realizar a terapia, considerados aspectos importantes. No entanto, não há estudos com delineamento apropriado que compare os resultados efetivos de diferentes métodos de reabilitação e que tenham identificado a superioridade da equoterapia.
Existe algum estudo ou recomendação para que se inicie a equoterapia antes mesmo do primeiro sinal de alteração da marcha de forma a atuar como prevenção ao surgimento deste sintoma?
Estudos tem evidenciado que pessoas com esclerose múltipla tendem a ser menos ativas que seus pares considerados saudáveis, além disso, apesar de muitas vezes aparentemente não visível, a alteração da marcha acontece de modo precoce e é identificada somente quando se utiliza equipamentos precisos de medição e que, portanto, a prática de exercícios físicos e/ou métodos de reabilitação podem retardar seu declínio e a progressão da doença. Este é um fator importante dado ao fato que a marcha é considerada uma das alterações mais incapacitantes dessa população.
Portanto, acredita-se que embora não tenha um estudo em equoterapia que tenha feito análise longitudinal que acompanhasse o paciente previamente ao desenvolvimento do sintoma e que fosse capaz de preveni-lo provavelmente esse resultado seria favorável. Ainda dentro desse contexto, um aspecto relevante é a adesão e a continuidade da prática de um tipo de exercício físico e a equoterapia constitui-se mais um método que tem mostrado resultados satisfatórios para a melhoria da marcha e da mobilidade e, portanto, sendo mais um método disponível para a escolha dessa população. Estudos publicados têm mostrado os efeitos da equoterapia nas variáveis espaço-temporais da marcha como aumento da velocidade e do tempo de suporte simples, diminuição do tempo de duplo apoio e da base de suporte assim como, melhora da mobilidade com diminuição do tempo para percorrer distância como no teste cronometrado de 25 pés ou no aumento da distância percorrida em testes como o teste de caminhada de 6 minutos.
Em sua opinião, o paciente tem maior adesão à equoterapia do que às terapias convencionais? O fato de ter a interação com o animal seria fator de estímulo?
A equoterapia, além do movimento do cavalo que se caracteriza por uma estimulação sensório-motora, possui aspectos relevantes que contribuem para que os resultados terapêuticos sejam alcançados satisfatoriamente. Posso citar o ambiente natural em que a terapia acontece, bem diferente do ambiente clínico com contato com a natureza, além do vínculo com o animal. A interação homem-cavalo pode contribuir muito nesse processo. Montar a cavalo é uma atividade prazerosa e muitas vezes, o ato de conduzir o cavalo, um animal imponente e de grande porte, favorece a autoeficácia, autoestima, autoconfiança e autonomia. Esse processo facilita a obtenção dos resultados pela motivação que os pacientes demonstram pelo atendimento, assim como, por não abandonar a terapia.
Ao realizar a equoterapia o paciente deve parar ou reduzir a carga de outras terapias (hidroginástica, pilates, yoga)? Como determinar a quantidade de sessões semanais de equoterapia de modo que não ocorra um aumento na fadiga do paciente?
Não há orientação de que o paciente interrompa a participação em outras terapias por estar realizando a equoterapia. No entanto, é importante que não se sobrecarregue com muitos exercícios físicos concomitantemente, no intuito de que sejam respeitados os intervalos de descanso. Além disso, ao iniciar o atendimento em equoterapia há sempre a preocupação em acompanhar quais são os outros métodos de reabilitação e/ou demais exercícios físicos realiza- dos pelo paciente e a frequência de realização. Em relação a fadiga também é comum se utilizar escalas de percepção de esforço para o manejo desse sintoma mediante as atividades propostas durante a sessão de equoterapia, bem como, o acompanhamento prévio ao chegar para o atendimento e como se manteve após a sessão realizada.