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Zona de Interesse, Maus & Metamaus: quando a arte imita a vida, de uma forma ímpar

Por Raphael Ribeiro Spera – Neurologista do Hospital das Clínicas da FMUSP e colaborador da Comissão de Comunicação e Editoração da ABN

O tema da Segunda Guerra Mundial e o Holocausto são frequentes no âmbito da cultura e da arte. Grandes obras literárias e cinematográficas, como O Diário de Annie Frank, A Lista de Schindler, O Pianista, A Vida é Bela, O Menino do Pijama Listrado, dentre outras, são clássicos que revisitam o tema de forma exuberante em sua mais plena forma. O vencedor do Oscar desse ano de melhor filme internacional – Zona de Interesse (2023), dirigido por Jonathan Glazer, é baseado em um livro homônimo (2014) de Martin Amis, que curiosamente falecera no mesmo dia da estreia do filme no Festival de Cannes e chegou aos cinemas esse ano trazendo uma nova perspectiva sobre o tema, que parece impossível de ser esgotado.

Ao demonstrar o objeto em questão de forma crua através de 104 minutos, uma família de alemães mora em uma casa cinematográfica, um verdadeiro paraíso idílico, que divide o muro com o campo de concentração de Auschwitz, traz a reflexão de como o retrato de uma vida “normal” pode se tornar mais grosseiro e insuportável do que o clássico retrato de um vilão cartunesco, estratégia muito amiúde em filmes Hollywoodianos. A banalidade horripilante do dia a dia da família, a naturalidade o qual as pessoas comuns aderem a um processo monstruoso, é entremeada com uma sonoplastia estupenda, que configura um elemento importante do filme, também vencedora do Oscar neste aspecto (recomendo ver no cinema ou sistema sonoro de qualidade, se possível), torna a residência uma entidade a parte na película. Sem demonstrar o campo de concentração de forma direta, consegue ser muito impactante. É a banalidade do mal, descrita pela filósofa alemã Hannah Arendt, em sua forma mais objetiva.

Já o graphic novel Maus – “rato”, em alemão (1980-1991), do polonês Art Spiegelman, foi vencedor do prêmio Pulitzer em 1992 por trazer um relato biográfico através de quadrinhos, sob o ponto de vista de seu pai (Vladek), que fora prisioneiro de Auschwitz. O grande diferencial e ineditismo, além da mídia utilizada para contar a história, é a antropomorfização dos personagens: os judeus são retratados como ratos, nazistas como gatos, polacos como porcos, dentre outros. A desumanização criada nesse processo e os eventos traumáticos relatados, são impactantes, íntimos, minuciosos e viscerais, possuindo inclusive aspectos jornalísticos. Para quem desejar se aprofundar na obra e no universo relatado, ano passado foi publicado o singular Metamaus, com diversas entrevistas, itens pessoais, retratos, mídia em DVD e documentos que permeiam a obra principal. Absolutamente imperdível.

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