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Estimulação cerebral profunda na doença de Parkinson: o passado, o presente e o futuro

Gustavo L. Franklin, M.D., Ph.D. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba PR, Brasil. Editor Associado de Divulgação e Mídias Sociais – Arquivos de Neuro-Psiquiatria.

Nas últimas décadas, a estimulação cerebral profunda (ECP) desenvolveu-se como importante ferramenta no tratamento da doença de Parkinson (DP) e outros distúrbios do movimento. A técnica neurocirúrgica consiste no implante de eletrodos em regiões específicas do cérebro e depende de critérios bem estabelecidos, que foram revisitados nos artigos publicados em duas partes na edição de abril da revista Arquivos de Neuro-psiquiatria, intitulados: Fundamentals of deep brain stimulation for Parkinson’s disease in clinical practice part 1 and part 2.

A eficácia a longo prazo da ECP na DP já está bem documentada no tratamento de sintomas motores cardinais da DP e das complicações induzidas pelo uso do

levodopa, como as flutuações motoras e as discinesias. Mas, o momento da seleção e as características clínicas e comórbidas do paciente são cruciais para obtenção dos benefícios ideais do tratamento. Na parte 1 da publicação, a Dra. Camila de Aquino e demais pesquisadores(1), revisaram conceitos fundamentais da ECP na prática clínica, discutindo os aspectos históricos, a seleção de pacientes, os potenciais efeitos da ECP nos sintomas motores e não motores da doença. Além disso, o artigo deixa claro pontos importantes da técnica. O primeiro é de que a ECP não busca ser curativa, neuroprotetora ou modificadora do curso da doença. Mas, ao estimular núcleos específicos no cérebro envolvidos na circuitaria afetada na DP, irão levar a melhora de sintomas específicos. Os sintomas que se beneficiam de forma consistente com a ECP são: o tremor de repouso, rigidez, bradicinesia e discinesias. Alguns sintomas, entretanto, podem se agravar com a ECP, tais como transtornos de controle de impulsos, distúrbios de fala, transtornos cognitivos e transtornos do humor. Além disso, as melhorias em sintomas específicos podem não ser refletidas por ganhos em funcionalidade ou qualidade de vida, por isso é fundamental que a decisão de fazer a ECP, seja baseado em critérios abrangentes e rigorosos. Além da idade e do tempo de doença em si, outros aspectos clínicos, como status cognitivo, o fenótipo motor, resposta à levodopa e a presença de comorbidades médicas são impactantes na resposta ao tratamento. 

Da mesma forma, alguns conceitos evoluíram e a ECP não deve ser considerada apenas como “último recurso.” Assim, na parte 2 da revisão, capitaneado pela Dra. Mariana Moscovich(2), o artigo discute os pontos que devem nortear a escolha do alvo terapêutico, explora futuros alvos, inovações de hardware e o manejo pós-operatório.

No editorial desse mês, intitulado ‘Tailoring and personalizing deep brain stimulation for Parkinson’s disease’(3), os autores Rubens Gisbert Cury e Carina França, ressaltaram a importância de uma seleção criteriosa dos pacientes candidatos à terapia. Além dos critérios de seleção descritos, os dados genéticos e de imagem são importantes preditores de resultados da DBS, que devem ser levados em consideração. Embora uma minoria de pacientes com DP tenha anormalidades genéticas, os portadores da mutação PRKN apresentam, caracteristicamente, bons resultados motores e mínimo declínio cognitivo, ao passo que pessoas com mutação GBA geralmente têm piores resultados cognitivos e neuropsiquiátricos. Apesar dos autores reforçarem que esses achados não devam ser motivo isolado para indicar o procedimento, eles devem ser considerados como ferramentas adicionais para ajudar tanto os pacientes

quanto os médicos a gerenciar as expectativas cirúrgicas.

De fato, a ECP tem passado por um processo contínuo de aprimoramento técnico, com melhora na seleção de pacientes e resultados obtidos. Apesar de todo o progresso, o acesso à terapia ainda é limitado, principalmente em países em desenvolvimento. Espera-se que avanço da neuromodulação e refinamento da técnica, ocorra maior desenvolvimento da terapia nos próximos anos, ampliando essas opções para médicos e pacientes.

LINK EXTERNO

Arquivos de Neuro-Psiquiatria – ANP: https://www.scielo.br/anp 

REFERÊNCIAS

Artigo – Parte 1

Camila Henriques de Aquino, Mariana Moscovich, Murilo Martinez Marinho, Lorena Broseghini Barcelos, André C. Felício, Matthew Halverson, Clement Hamani, Henrique Ballalai Ferraz, Renato Puppi Munhoz. Fundamentals of deep brain stimulation for Parkinson’s disease in clinical practice: part 1. Arq Neuro-Psiquiatr [Internet]. 2024;82(4):s00441786026. Available from: https://doi.org/10.1055/s-0044-1786026

Artigo – Parte 2

Mariana Moscovich, Camila Henriques de Aquino, Murilo Martinez Marinho, Lorena Broseghini Barcelos, André C. Felício, Matthew Halverson, Clement Hamani, Henrique Ballalai Ferraz, Renato Puppi Munhoz. Fundamentals of deep brain stimulation for Parkinson’s disease in clinical practice: part 2. Arquivos De Neuro-psiquiatria, 82(4), s00441786037. https://doi.org/10.1055/s-0044-1786037 

Editorial
Rubens GisbertCury, Carina França. Tailoring and personalizing deep brain stimulation for Parkinson’s disease. Arq Neuro-Psiquiatr. 024;82(4):s00441786823. Available from: https://doi.org/10.1055/s-0044-1786823.

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