O congresso da International Parkinson and Movement Disorder Society (MDS), principal evento em todo o mundo sobre Parkinson e distúrbios do movimento, aconteceu entre os dias 27 e 31 de agosto em Copenhague, na Dinamarca. Auspicioso não só por ter sido o primeiro a receber a capacidade máxima de participantes desde o início da pandemia de Covid-19, mais de 5 mil, mas também pelas promissoras novidades apresentadas, o encontro contou com a presença de renomados médicos brasileiros – entre eles, Jacy Parmera, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, que fala ao ABNews sobre o que viu e ouviu na capital dinamarquesa.
“Além de ter sido um congresso extremamente bem-organizado”, pontua a dra. Jacy, pós-doutoranda pela Faculdade de Medicina da USP e pela University College London, e neurologista assistente do grupo de distúrbios do movimento do Hospital das Clínicas da FMUSP, “houve um esforço no sentido de incluir ali diferentes grupos e vivências: mais mulheres, mais cientistas de países em desenvolvimento e outros”.
“Alguns pesquisadores pautaram, por exemplo, a terapia e a investigação de distúrbios do movimento nas realidades dessas nações, na América Latina, na África, no Oriente Médio. E na esteira dos debates sobre diversidade, muito se falou a respeito da importância da expansão das coortes, uma vez que a maior parte dos estudos é feita com grupos caucasianos. A falta de pluralidade étnica pode comprometê-los.”
Não por acaso, vários especialistas do Brasil conduziram aulas. Ela cita palestrantes como Sarah Camargos, Patrícia Aguiar, Débora Maia, Tamine Capato, Orlando Barsottini e Thiago Cardoso. “Apesar de não termos os recursos que a América do Norte e a Europa têm, nós nos sobressaímos, podemos ser considerados, de certa maneira, expoentes. O atual presidente da MDS, a propósito, é o nosso colega Francisco Cardoso. Na América do Sul, já somos a maior referência em pesquisa e atendimento a pacientes com Parkinson.”
Comentou-se bastante, ao longo do evento, a nova classificação biológica da doença, que permite identificar o Parkinson antes da manifestação dos sintomas clínicos, explica a dra. Jacy. Outras novidades científicas foram o ultrassom focado de alta frequência para o Parkinson, tecnologia minimamente invasiva que ainda não chegou ao país; uma nova versão da Levodopa, com a infusão subcutânea do fármaco, que deve aparecer por aqui em 2025; e novos tratamentos para o tremor essencial e para o Huntington, tendo a valbenazina sido aprovada pela Food and Drug Administration (FDA).
A neurologista ressalta que é difícil predizer quanto tempo levará até que as novidades sejam experimentadas por pacientes brasileiros, em especial os que acessam apenas o sistema público de saúde. “Dependemos da importação feita pelos hospitais de tecnologias como o ultrassom focado, que já não é somente pesquisa, é realidade nos Estados Unidos – e esse movimento começa, é claro, com o setor privado. O mesmo acontece com a foslevodopa/foscarbidopa, que estamos tentando incorporar ao rol de procedimentos aprovados pelos planos de saúde. Até aparecer no SUS, lá se vão cinco, dez anos.”
Hoje, o grande desafio é garantir atendimento a todos os pacientes, seja na saúde pública ou na privada, pondera a dra. Jacy. A escassez de especialistas capacitados nas regiões distantes dos centros urbanos, mesmo para tratamentos mais simples, e a morosidade no processo de incorporação de novas tecnologias como as apresentadas no International Congress of Parkinson’s Disease and Movement Disorders prejudicam a população. O abismo entre avanço científico e alcance social se agiganta. “Por isso, para a próxima edição do congresso, que será na Filadélfia, espero que se amplie ainda mais o espaço para realidades diferentes da euro-americana. Precisamos ser vistos e ouvidos”, arremata.