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Linha direta com a ciência e o mundo

A Academia Brasileira de Neurologia foi representada de forma importante na Alzheimer’s Association International Conference, a AAIC 2023. De 16 a 20 de julho, Amsterdã, na Holanda, recebeu milhares de pesquisadores, neurologistas e demais especialistas interessados em demência, Alzheimer e outras patologias correlatas – entre eles, mais de 200 brasileiros e membros da ABN, como Raphael Ribeiro Spera. O médico, que durante o evento entrevistou os colegas Sônia Maria Dozzi Brucki, Paulo Caramelli e Ricardo Nitrini, fala agora ao ABNews sobre novidades, Linha direta com a ciência e o mundo highlights e a expressiva participação do nosso país no AAIC.

“Pela primeira vez, estive na conferência presencialmente, exceto nos dias 14 e 15, de pré-congresso, quando houve workshops, meetings e programas de treinamento. Antes, em outras três ocasiões, havia participado à distância, virtualmente. É um encontro híbrido, o que permite que as pessoas impossibilitadas de viajar, independentemente do motivo, participem”, elucida o médico.

Inclusão, a propósito, foi uma das palavras que nortearam a edição 2023 do AAIC. Profissionais e pesquisadores de países de baixa e média renda obtiveram descontos ou até mesmo gratuidade na inscrição. Com isso, o total de conferencistas – mais de 7500 pessoas na capital holandesa e de 3500 acompanhando as atividades on-line -, bem como o número de brasileiros, bateu recorde. “Fomos o 3° país em quantidade de participantes, somando as modalidades presencial e virtual.”

Em conversa com o dr. Raphael, o Professor Titular do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (FM/UFMG) e Diretor Consultivo da Sociedade Internacional para o Avanço da Pesquisa e do Tratamento da Doença de Alzheimer (ISTAART), Paulo Caramelli, declarou que é motivo de grande orgulho para a ABN e para a ciência brasileira a presença pujante do país na conferência.

Ele lembra que o Diretor Científico é Sérgio Ferreira, Professor Titular do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), e que colegas integram diferentes comitês organizadores do encontro. Também foram muitos os pesquisadores brasileiros, jovens ou já estabelecidos, apresentando seus trabalhos em plataformas orais, mesas redondas e pôsteres.

“Frequento o evento há quase 30 anos. Em 1994, éramos apenas três brasileiros. Hoje, é uma satisfação enorme ver como esse número cresceu de forma exponencial”, relata o dr. Paulo. O vídeo completo dessa e das outras entrevistas feitas durante o AAIC está disponível no portal de notícias e nas redes sociais da ABN.

Segundo o dr. Raphael, um conjunto de fatores pode explicar tamanha expansão. “A Neurologia está em voga, em especial a cognitiva, que abarca o Alzheimer e outras doenças associadas desse grupo. E chama a atenção o surgimento, nos últimos dois anos, de muitas notícias sobre novos tratamentos que têm sido desenvolvidos.”

“Além disso, vários brasileiros enviaram trabalhos para serem apresentados na conferência e ganharam, por conseguinte, hospedagem, inscrição gratuita ou outros benefícios. A despeito de todos os entraves que os cientistas enfrentam no nosso país, é preciso salientar que somos destaque na área neurológica e dentro da própria Alzheimer’s Association.”

Dois highlights são destacados pelo médico. No segundo dia de atividades, foram exibidos os resultados do estudo do Donanemab, droga modificadora que, tal qual outras duas aprovadas anteriormente, em janeiro de 2021 e em janeiro deste ano, pretende desacelerar a evolução do Alzheimer. “Trata-se de um medicamento caro, que pode provocar efeitos colaterais graves, mas os resultados são promissores. É algo a ser comemorado, porque passamos quase duas décadas sem novidades medicamentosas. Devemos acompanhar, nos próximos meses e anos, como os medicamentos serão recebidos na prática clínica.”

A dra. Sônia Brucki, editora chefe da revista Dementia & Neuropsychologia e Coordenadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), com quem o dr. Raphael também conversou, faz ainda um alerta quanto à falta de diversidade entre as amostras do estudo. Sem negros, hispânicos ou orientais em número suficiente, não se sabe se esses grupos têm a mesma resposta ao anticorpo monoclonal.

O neurologista lembra outra discussão importante referente aos novos critérios da doença de Alzheimer. “Por envolver tecnologias recentes, métodos diagnósticos que nem sempre estão disponíveis em países da América do Sul, da África e da Ásia, o tema gerou bastante debate. Não é ruim que surjam novos critérios, mas precisamos caminhar com cautela, pensando em como aqueles que vêm de áreas mais pobres do globo poderão se adequar aos diagnósticos. No Brasil, não temos nem a tecnologia nem os materiais necessários disponíveis amplamente para isso.”

Entrevistado pelo dr. Raphael no último dia de conferência, o professor Ricardo Nitrini, que junto com a dra. Sônia comanda o quadro editorial da Dementia & Neuropsychologia e coordena o GNCC da Divisão de Clínica Neurológica do HC-FMUSP, pondera que os médicos brasileiros devem pesquisar, publicar, marcar presença em eventos internacionais, defendendo o melhor tratamento possível aos pacientes e mantendo a posição de liderança da especialidade no país. A próxima edição do AAIC, em 2024, acontecerá na Filadélfia, nos Estados Unidos.

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