Em 2023, não é incomum ouvir pessoas dizerem, em tom de espanto, que “2013 foi ontem”. Pode não parecer, mas muito aconteceu no decurso de uma década – e o campo da saúde, mais do que qualquer outro, viveu as mudanças profundas desse período marcado por uma pandemia. Enquanto o mundo e a medicina se transformavam, surgia uma nova geração de médicos. Se ontem eram jovens recém-formados, quiçá inseguros e um pouco perdidos, hoje são os profissionais habilidosos que comandam consultórios e se aperfeiçoam cotidianamente. Um deles é o neurologista Helton Benevides, que em 2013 concluiu a graduação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Nesta matéria, ele relembra conquistas de sua carreira e a colocação no mercado de trabalho sergipano.
Formação
Após dois anos de intenso trabalho na área de saúde básica e na emergência hospitalar, Helton deixou sua terra natal para ingressar na residência em Neurologia Clínica do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE). Partir para estados com programas de residência mais robustos e maior oferta de vagas é um movimento natural para inúmeros médicos em início de carreira, conforme mostramos na reportagem Desafios da residência médica em Neurologia, publicada na edição Mar/Abr 2023 do ABNews.
“Foi uma mudança significativa de cenário, de trabalho e de ensino”, comenta Helton. “Eu via os acontecimentos, guidelines, trials, estudos, novas medicações chegando. As referências da neurologia no Brasil, e muitas vezes no mundo, estavam bem próximas, conversando, discutindo, tirando dúvidas, trocando casos. Era grandioso.”
“Ir para São Paulo e ter a felicidade de encontrar um serviço excelente, colegas e mestres que me acolheram muito bem e que me fizeram crescer tanto profissional quanto pessoalmente, foi minha primeira grande conquista.”
Não demorou até que uma área em especial encantasse o jovem – seu desempenho notável o levou à subespecialização (fellowship) em Transtornos do Movimento pelo IAMPSE. “Um tanto por isso, pelos congressos e pela vontade de repassar conhecimento, também surgiu o desejo de seguir na academia. Daí o mestrado em andamento em Ciências da Saúde, pelo IAMPSE, e muito provavelmente um doutorado no futuro”.
Hoje, de volta à UFS e sob chefia de Roberto César Prado, supervisor do Programa de Residência Médica em Neurologia do Hospital Universitário, Helton é professor voluntário no Ambulatório de Transtornos do Movimento do HU. “Retornar dessa forma”, celebra, “atuando no ambulatório que o dr. Roberto iniciou, de volta à minha antiga casa, é começar com o pé direito”.
“Depois de descobrir o prazer de estudar nossa especialidade, meu maior desafio nos próximos anos será transmitir uma neurologia fácil e descomplicada, da mesma forma que meus preceptores e colegas da residência me passaram. Prestarei concurso para professor assim que tiver a oportunidade.”
Mercado de trabalho
Assim como outros jovens, ao se inserir no mercado, Helton afirma não ter pensado em subáreas; tentou ser o mais diversificado possível. “Avaliação hospitalar, consultório, plantões de PS, de liquorista – é preciso ter paciência para poder, até mesmo com fellowship, abarcar futuramente o nicho de pacientes que foi escolhido. Isso é importante para a maturação do neurologista que acaba de se formar. Ainda que seja difícil se manter atualizado em todas as áreas diante de um sem-fim de doenças, medicações, intervenções e aulas, é preciso tentar.”
Segundo o médico, a neurologia clínica é um mercado bastante amplo, sobretudo para aqueles que gostam de pacientes e procedimentos mais complexos. “Há áreas como a neurofisiologia, que faz com que o profissional lide com exames fundamentais para a prática diária; áreas como a da cefaliatria e das doenças desmielinizantes, com atualizações constantes e novas drogas que podem melhorar a qualidade de vida das pessoas; e áreas em que a clínica ambulatorial é mandatória, como no caso dos transtornos do movimento e das demências.”
Perspectiva local
Embora pontue que faltam especialistas no mercado sergipano, seja no serviço público ou no privado, desde que voltou ao estado Helton afirma ter percebido o retorno de muitos colegas que também estavam fora. Para ele, o Brasil ainda é carente de profissionais bem formados. “Precisamos de neurologistas nas áreas mais remotas do país, é claro; mas a população continua sem a assistência devida até mesmo em alguns centros urbanos.”
“É fundamental que jovens médicos ocupem postos em regiões que carecem de bons especialistas: Norte, Nordeste, Centro-Oeste. Algumas cidades do agreste já contam com neurologistas novos e capacitados, mas ainda são poucos. Devemos fomentar esse movimento.”
Talvez assim mais brasileiros tenham acesso a um atendimento digno, pautado no princípio hipocrático que norteia o trabalho de Helton: “Primum non nocere, secundum cavere, tertium sanare” (Em primeiro lugar, não fazer mal, em segundo, prevenir, em terceiro, curar).