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American Academy of Neurology

No aniversário de 75 anos da Academia Americana de Neurologia (American Academy of Neurology, AAN), Gabriela Pantaleão embarcou com a família rumo aos Estados Unidos para realizar um desejo antigo: participar do tradicional congresso da sociedade (AAN Anual Meeting).

De 22 a 27 de abril, Boston, no estado de Massachusetts, sediou o evento que é um dos mais importantes em todo o globo. A médica, durante quase uma semana, se envolveu em diversas atividades com alguns dos maiores nomes da neurologia mundial. Aqui ela detalha o que vivenciou e conta como voltou ao Brasil transformada.

Do sonho à realidade

“Desde a época da UFRJ, onde me formei, eu já gostava muito de congressos. Além dos estaduais, tive a oportunidade de ir ao Brasileiro de Neurologia no final da faculdade, foi uma experiência e tanto”, lembra Gabriela, que hoje costuma comparecer a encontros internacionais dentro da sua subárea, epilepsia.

Vivendo o fim da pandemia e algumas mudanças na sua relação com a carreira, ela decidiu se preparar para ir ao AAN por conta própria, sem o patrocínio de qualquer empresa. “Aproveitei que meu marido, também médico, estava de férias, e mergulhamos nessa aventura com nosso filho, um bebê de dez meses. Foi um desafio profissional e pessoal a um só tempo, porque equilibrar o trabalho e a maternidade nem sempre é fácil, mas estar lá fez tudo valer a pena.”

Programação e destaques científicos

“Um dos aspectos que mais me fascinou foi a variedade da programação, de palestras a cursos. As plenárias, por exemplo, que aconteceram na maior sala do congresso, foram imperdíveis. Nelas, eram abordados hot topics, os principais temas de atualização do último ano. Não consegui participar de tudo o que gostaria, dado o volume de atividades simultâneas, mas como foram gravadas, vi depois. A propósito, muitas pessoas que não puderam comparecer presencialmente acompanharam a programação pela internet.”

Gabriela destaca ainda os hubs, pontos de debate espalhados pelo evento sobre assuntos diversos. Um deles, o Wellness Hub, tratou de burnout e ofereceu aulas de ioga todas as manhãs. Outro, focado na carreira dos neurologistas, abordou transição profissional e liderança. “No Brasil, temos uma formação estritamente técnica, conhecemos de cabo a rabo AVC, epilepsia, Alzheimer; mas não aprendemos a montar um consultório, uma equipe, a atuar em um hospital, a lidar com a saúde privada. São coisas essenciais”, argumenta.

Chamaram sua atenção os avanços nas discussões sobre o tratamento da cefaleia, que agora conta com medicação específica anti-enxaquecosa, e do Alzheimer, com ênfase nos anticorpos monoclonais e em drogas como o lecanemab, assim como os novos estudos na área neuromuscular. “Vimos que estão sendo feitos trials com drogas específicas. A Food and Drug Administration, a Anvisa americana, recentemente aprovou uma medicação para a Ataxia de Friedreich. Distrofia de Duchenne e esclerose lateral amiotrófica logo também poderão se beneficiar com outras drogas. Não são curativas, mas diminuem a velocidade de progressão da doença, o que já é um grande ganho.”

“O congresso mobiliza todas as áreas, anatomia, exame físico, novas opções terapêuticas nas diferentes subespecialidades. E prova, aliás, que as inovações não são só em terapia, mas ainda em diagnóstico e semiologia. Isso reavivou o meu encantamento, o meu amor pelo nosso campo. Agora tenho uma nova referência de reciclagem e aperfeiçoamento.”

Diversidade e inclusão

Um congresso para todos, sobre todos e feito por todos. Gabriela, viajando com o filho, se sentiu abraçada ao encontrar no evento uma estrutura pensada para congressistas que são mães e pais, com direito a family room e cabines de amamentação.

“Eles se preocupam com a inclusão e com a diversidade também. Nas abordagens científicas, sempre levam em conta as particularidades de cada grupo. Há aulas, por exemplo, sobre doenças neurológicas em pacientes transgênero – e ministradas por pessoas trans. Nesse aspecto, nosso olhar precisa ser mais humano e individualizado, considerando especificidades psicossociais e biológicas. É algo que não vejo tanto no Brasil. É comum falarmos sobre neurologia e população trans? População negra? Há muito o que avançar.”

E o Brasil?

Para Gabriela, os encontros brasileiros podem ter formatos mais criativos e abranger temas profissionais, como liderança e gestão de consultório. “Depois do que vi no Congresso Americano, percebi que nós costumamos nos repetir.”

“Mas temos muito a oferecer, seja organizando eventos, seja produzindo conhecimento. Uma das aulas das plenárias, faço questão de frisar, foi ministrada por um brasileiro, o Raul Nogueira. Ele publicou, junto com a Gisele Sampaio e outros neurologistas brasileiros, um trabalho de relevância internacional sobre conduta no AVC agudo.”

Os especialistas do país são dedicados e os centros de formação são bons, pondera a médica, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ela destaca o trabalho dos pesquisadores, que vencem diariamente o cenário de sucateamento da ciência. “Cito mulheres como a Lívia Dutra, da área de encefalite imunomediada, e a Gisele Sampaio, em neurologia vascular. Não quero romantizar nossas falhas e nossas faltas, mas temos garra. Potencial não nos falta.”

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