Durante o XIV Congresso Paulista de Neurologia, iniciado em 31 de maio, na cidade de Santos, litoral de São Paulo, foi realizada intensa divulgação da edição impressa do Consenso Brasileiro de Demências no estande da a Academia Brasileira de Neurologia. As diretrizes são uma iniciativa do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN e visam a sistematizar condutas que auxiliam no diagnóstico e tratamento, principalmente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Fizeram parte do mutirão de propaganda Jerusa Smid, Breno Barbosa, Sonia Brucki e Karolina Cesar, membros Academia e filiados ao DC.
Sobre a publicação
O do Consenso Brasileiro de Demências foi uma elaboração conjunta de diversos estudiosos e especialistas em Neurologia Cognitiva, incluindo, além de neurologistas, psiquiatras, geriatras, fonoaudiólogos e demais profissionais que trabalham com pesquisa e assistência.
“Organizamos orientações levando em conta os diversos níveis de atenção do SUS. Primário, secundário e terciário. Ao todo, são sete artigos que abordam o diagnóstico de demência, de comprometimento cognitivo leve e de declínio cognitivo subjetivo, assim como as principais manifestações e as indicações de tratamento em casos iniciais e graves”, conta Jerusa Smid, secretária geral da ABN, especialista em Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Divisão de Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Ela destaca, ainda, a relevância do projeto para a atualização da especialidade e da medicina. “É um documento de maior relevância, inclusive considerando que o anterior foi publicado em 2011. Desde lá, novas tecnologias e procedimentos surgiram, então é uma forma de unificar e estabelecer as condutas mais eficazes e recentes para os médicos que cuidam de pacientes com demência”.
Abordagens práticas
São tratados pontos absolutamente fundamentais desde o diagnóstico clínico das demências até subtipos e orientações para tratamento.
“Neste trabalho, então, fizemos recomendações do que pode ser feito em cada um dos níveis da função. O material elenca os principais testes, condutas, sugestões de exames neurológicos e exames físicos para cada caso”, conta Lucas Schilling, neurologista e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. “A meta é que o médico seja capaz de determinar um diagnóstico com qualidade e clareza, seguindo as diretrizes propostas neste Consenso”.
A orientação de acordo com níveis de atenção é um dos destaques do projeto. Isso porque documentos semelhantes publicados anteriormente partem do pressuposto de que todos os profissionais que atendem pacientes com alterações cognitivas dispõem da mesma estrutura e realidade.
“Na prática, sabemos que essa conjuntura não se aplica à realidade do Brasil. Vemos distintos cenários entre a atenção básica, secundária e terciária, então é essencial ter olhar individualizado para cada contexto”, esclarece Lucas.
Para Breno Barbosa, especialista em Neurologia Cognitiva e do Comportamento e professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, o consenso tem a missão de definir abordagens práticas e viáveis para os diferentes níveis.
“Pensando em diagnóstico, desde a atenção primária existem ferramentas de mais fácil acesso, como os exames laboratoriais, a tomografia de crânio e alguns testes de rastreio cognitivos e de funcionalidade, que podem ser aplicados por profissionais generalistas”, exemplifica. “Já no nível secundário, podemos recorrer a métodos diagnósticos mais elaborados, como a ressonância magnética, estudo do LCR e outros biomarcadores; por fim, em nível terciário, alguns centros especializados em demência dispõem de métodos mais refinados de neuroimagem avançada como o PET cerebral, biomarcadores avançados e pesquisas genéticas”.
Estudo e discussão
O consenso permeia vários tipos de demência. Há espaço dedicado para a discussão da doença de Alzheimer, demência frontotemporal (DFT), demência vascular e demências com Parkinsonismo. Traz também artigos exclusivos sobre tratamento das demências e cuidados em fase avançada.
“São apresentadas orientações de qualidade sobre quais remédios podem ser utilizados em cada fase da doença e sobre os tratamentos não farmacológicos, como as terapias de reabilitação com psicólogo ou terapeuta ocupacional, fonoaudiologia, atividade física, musicoterapia e mais”, compartilha.
Especificamente quando ao manejo da demência em fase avançada, o foco está em orientações que priorizam o conforto e qualidade de vida do paciente em situação de completa dependência de terceiros para cuidados e a execução de atividades básicas do dia a dia.
“O Consenso de Demências é fruto de muito estudo e de uma profunda discussão de especialistas de diversas áreas, designados pelo Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN. Contamos com um grupo de ampla representação nacional. Foram quase dois anos de trabalho intenso. É um projeto de natureza plural e que oferece orientação a todos os profissionais de saúde que lidam com a população idosa”, ressalta Breno Barbosa.