Analisar os efeitos da promoção da saúde cognitiva em intervenção num grupo virtual para idosos que vivem na comunidade é foco do estudo Promoting cognitive health: a virtual group intervention for community-living older adults. Trata-se de investigação mista, prospectiva e analítica.
Antes e após a intervenção foram aplicados os testes: bateria de triagem cognitiva breve (BCSB) e questionário de queixas de memória subjetiva (MAC-Q).
A coleta de dados ocorreu em entrevistas semiestruturadas relacionadas à adoção de estratégias de memória. Foram realizados testes estatísticos para a comparação intragrupo inicial e final. Já os dados qualitativos foram avaliados por meio da análise temática. Nesta reportagem do ABNews, Tamires Nicodemos Vasques, primeira autora do paper que será publicado com exclusividade, em breve, pela Dementia & Neuropsychologia, pondera que intervenções cognitivas em grupo podem promover um senso de autoeficácia em idosos. Ela analisa os achados do estudo e comenta como podem favorecer pacientes idosos. Confira.
Quais são as medidas de promoção de saúde cognitiva e como isso pode aumentar a reserva cognitiva na população idosa?
As medidas de promoção de saúde cognitiva incluem a adoção de estilos de vida saudáveis, mudanças nos comportamentos de saúde, participação social e manutenção de estímulos cognitivos. Intervenções com essa finalidade têm o potencial de aumentar a reserva cognitiva na população idosa à medida que favorecem a aprendizagem de estratégias mnemônicas e estímulo aos componentes da promoção da saúde biopsicossocial.
Como a tecnologia pode auxiliar em relação à avaliação e reabilitação cognitiva?
A tecnologia tem se apresentado como um importante aliado para promoção de acessos à saúde, principalmente no período pandêmico, em que se observaram retrocessos na saúde cognitiva da população, como dificuldade de concentração, perda de memória, estresse, ansiedade, humor deprimido e problemas de sono. Em relação à avaliação dos idosos atendidos no estudo em questão, identifica-se que a tecnologia oportunizou o exame pré e pós intervenção de suas funções cognitivas da linguagem e queixas subjetivas de memória a partir de dois instrumentos padronizados, bem como a identificação do impacto da memória e atenção no cotidiano do idoso, uso de estratégias para memorizar informações, familiaridade com as tecnologias e possíveis dificuldades dos idosos em manipulá-las. No que se refere à reabilitação cognitiva, foi possível abordar os conceitos de memória, funções mentais, aspectos emocionais, memória e envelhecimento, estilo de vida e estratégias para manter e melhorar a memória.
Quais as vantagens do uso da tecnologia e consultas online para o grupo de pacientes? A pandemia pela COVID-19 acelerou esse processo?
Os participantes discutiram o impacto do grupo em seu cotidiano, destacando que isso lhes permitiu diversificar sua rotina, que estava restrita pelas medidas de distanciamento social, bem como favoreceu a sua socialização, a partilha de experiências do cotidiano e diminuiu os sentimentos de solidão. Quando solicitados a refletir especificamente sobre a consulta em grupo à distância, manifestaram-se surpresos com a possibilidade de criar laços de amizade em um ambiente virtual. As vantagens dessa modalidade incluem poder participar de qualquer lugar com recursos tecnológicos, diminuindo custos financeiros e tempo gasto em deslocamentos urbanos. Também foi positiva a diminuição do risco de contágio, além do ambiente online mais intimista promovido pelo grupo, como “ver animais de estimação e partes da casa”. Os participantes abordam que aprender a se relacionar com o meio virtual e a inclusão digital, por conseguinte, foi uma experiência valiosa. Nesse sentido, é possível afirmar que a pandemia por COVID acelerou o processo de identificação do potencial da telessaúde, à medida que tornou-se a única alternativa de acesso/ manutenção à saúde pela população de risco.
O que pode ser um fator limitador desse processo no nosso país?
Com relação às dificuldades encontradas pelos participantes do estudo, destacam-se a rotina doméstica, problemas de conexão com a internet, interrupções ao usar o microfone, tamanho reduzido da tela e dificuldade de visualização da câmera de todos os participantes ao usar o celular para acessar a plataforma. Assim, o tipo de dispositivo utilizado para acessar as reuniões foi uma variável importante, pois, ao contrário do computador, o celular exige o posicionamento do dispositivo, regulando o áudio e o microfone com mais precisão para deixar o som claro e audível, além de definir uma grade visualizar. A replicação de intervenções desse cunho em nosso país pode esbarrar em desigualdades sociais, no acesso restrito à tecnologia e no analfabetismo técnico da população idosa, no entanto, identificam-se como medidas para lidar com essas dificuldades o fomento às políticas públicas e às pesquisas científicas que apoiam a inclusão digital dessa população, bem como sua saúde cognitiva.
O que o estudo demonstrou de inovador e quais os próximos passos?
Infere-se que esse tipo de intervenção tem o potencial de identificar idosos com queixas de memória que não são acompanhados pela equipe de saúde, o que torna essa ação alvo da promoção e prevenção de agravos em saúde cognitiva. Intervenções futuras devem aplicar testes específicos nos participantes para melhor identificar aqueles com risco de declínio cognitivo. Além disso, o estudo é relevante por oferecer um modelo de intervenção que pode ser aplicado de forma viável pela equipe de saúde básica, auxiliando pessoas que tiveram dificuldade de acesso ao serviço. Sugere-se que pesquisas futuras sejam realizadas com grupos controle, incluam amostras heterogêneas quanto à faixa etária e escolaridade, bem como sujeitos de todo o país, a fim de analisar possíveis diferenças que interferem no desempenho da memória, acesso à tecnologia e aproveitando ao máximo o grupo em formato remoto.
