Garantir formação de excelĂȘncia e qualidade no exercĂcio de determinada especialidade Ă© a razĂŁo da residĂȘncia mĂ©dica. O processo exige uma matriz curricular especĂfica, rotinas de estudo, aprendizado cientĂfico, sĂł para citar algumas etapas.
No caso da Neurologia, a especialização, em regra, se dĂĄ em trĂȘs anos, conforme estabelecido pela ComissĂŁo Nacional de ResidĂȘncia MĂ©dica (CNRM) do MinistĂ©rio da Educação (MEC). PorĂ©m, jĂĄ hĂĄ algum tempo, a ABN defende a atualização dessa fase de formação, pela complexidade dos conhecimentos e pelo volume de conteĂșdo indispensĂĄvel Ă boa prĂĄtica.
De acordo com o professor Gilmar Prado, ex-presidente da Academia , com o avançar das tecnologias e da ciĂȘncia, houve acrĂ©scimo considerĂĄvel de novas informaçÔes essenciais. Portanto, faz-se imprescindĂvel um ano a mais para aprofundamento da Neurologia.
âHoje, temos um tempo de formação pequeno, insuficiente se comparado ao exigido pela especialidade e o praticado em outros paĂses. Com apenas trĂȘs anos, falta tempo para apresentação e treinamento de numerosos conhecimentos e prĂĄticas jĂĄ bem estabelecidasâ, pondera ele.
Pensando no aperfeiçoamento da formação, a ABN desenvolveu o R4 – Programa de ResidĂȘncia Complementar, encaminhando-o Ă CNRM como proposta piloto. PrevĂȘ que centros de treinamento participantes adotem o quarto ano e, apĂłs testes por um tempo, ocorra uma anĂĄlise das contribuiçÔes e resultados gerados.
O programa jĂĄ estĂĄ em andamento em quatro universidades: Escola Paulista de Medicina, Faculdade de Medicina da USP, Universidade Federal do ParanĂĄ e Universidade Federal de CiĂȘncias da SaĂșde de Porto Alegre.
ALTERAĂĂES DE ĂLTIMA HORA
Recentemente, devido a questĂ”es pontuais da legislação brasileira, foi necessĂĄria uma alteração no projeto piloto do R4. Gilmar Prado relata como ficamos: âA princĂpio, o residente fazia uma prova para ingresso, um concurso, e jĂĄ era estabelecido no edital que seriam cursados 4 anos. Mas, depois de reuniĂ”es e conversas com a ComissĂŁo Nacional de ResidĂȘncia MĂ©dica e com a Associação MĂ©dica Brasileira, considerando as dificuldades legais, chegamos em novo formatoâ.
Com o ajuste, a residĂȘncia seguirĂĄ trianual em fase inicial. Contudo, com a possibilidade de complementação da formação, realizada em um ano adicional.
âEsse quarto ano envolve a mesma matriz de competĂȘncias de nosso projeto piloto, , aprovado pela CNRM/MECÂč. Assim, o objetivo de formar o residente de maneira mais aprofundada permanece o mesmoâ, destaca o professor.
Na prĂĄtica, a principal mudança Ă© que, ao invĂ©s de se especializar em Ășnica etapa, o residente farĂĄ uma prova, ao tĂ©rmino do terceiro ano, para entĂŁo ter acesso Ă formação complementar.
CONTEĂDOS DO QUARTO ANO
Ainda de acordo com Gilmar Prado, a grande vantagem do quarto ano de residĂȘncia estĂĄ no aprofundamento do acompanhamento dos pacientes com doenças neurolĂłgicas.
âAtĂ© o R3 Ă© imperioso que o mĂ©dico saiba fazer o diagnĂłstico e como conduzir os pacientes, mas no 4Âș ano ele irĂĄ aprender a melhor forma de manejar essa condução, ponderando cada tipo de problema. Ă um perĂodo que proporcionarĂĄ ao residente uma confiança muito maior no atendimento do dia a dia e em situaçÔes inesperadasâ.
AlĂ©m disso, o programa proposto pela ABN garante conhecimentos aprofundados em neurofisiologia clĂnica, auxiliando na interpretação com propriedade de exames como eletroencefalograma e eletroneuromiografia.
âĂ importantĂssimo o mĂ©dico ser plenamente capaz de compreender resultados e avaliar a qualidade dos exames. Hoje, demora-se cerca de um ano para aprender a realizar e interpretar corretamente alguns delesâ.
Outros exemplos de conteĂșdos a serem melhor trabalhados no quarto ano sĂŁo o potencial evocado, polissonografia, neurorradiologia, doenças de natureza genĂ©tica, neuro-oftalmologia e neurotologia.
âHĂĄ sĂłlidas evidĂȘncias da relevĂąncia do projeto nas avaliaçÔes feitas atĂ© o momento com os R4. Vemos mais segurança, qualidade e o amadurecimento de conhecimento nas provas deles, se comparado-as Ă s dos residentes do terceiro anoâ.
R4 OPCIONAL
O quarto ano de residĂȘncia serĂĄ opcional. Logo, com trĂȘs anos de formação, esse profissional jĂĄ pode ser titulado neurologista e certificado pela ComissĂŁo Nacional de ResidĂȘncia MĂ©dica e pelo MinistĂ©rio da Educação.
Entretanto, a ABN estĂĄ convencida de que o ano adicional Ă© imperioso para uma formação completa e de alto nĂvel. âSeguramente, a Academia serĂĄ cada vez mais exigente na prova para o tĂtulo de especialista, pois deve refletir o conteĂșdo indispensĂĄvel e integral ao bom exercĂcio da Neurologiaâ, finaliza Gilmar Prado.