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Afasias: causas e tratamentos 

Em abril deste ano, a família do ator Bruce Willis, conhecido por diversas atuações cinematográficas norte-americanas, como a premiada sequência Duro de Matar, anunciou a aposentadoria dele devido a uma afasia – distúrbio de linguagem decorrente de uma lesão cerebral. Poucas semanas depois, o cartunista brasileiro Angeli Filho também encerrou sua carreira em decorrência da doença.

De acordo com Leonel Takada, neurologista do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Divisão de Clínica Neurológica e do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a afasia se manifesta, essencialmente, como uma dificuldade para se expressar e/ou compreender o que é dito.

“Os principais sintomas são dificuldade para articular, confusão de letras e palavras, confusão de sons, dificuldade na compreensão de palavras e frases e dificuldade na leitura e na escrita”, menciona.

DIAGNÓSTICO

Maria Teresa Carthery-Goulart, professora associada da Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisadora colaboradora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, pontua que as afasias podem ter diversas etiologias.

“A mais comum é o acidente vascular cerebral (AVC), quando afeta a rede responsável pelo processamento da linguagem no hemisfério esquerdo. Porém, há outras causas: tumores cerebrais, traumatismos cranioencefálicos e doenças neurodegenerativas, entre outras”, explica ela, que é também mestre em Psicologia, na área de Neurociências e Cognição pelo Instituto de Psicologia da USP.

Dentre os casos de doenças neurodegenerativas, destaca-se a afasia progressiva primária, síndrome caracterizada pela perda progressiva da linguagem. “Nela, ocorre

uma neurodegeneração da rede de linguagem no hemisfério esquerdo com perda progressiva das habilidades de expressão e compreensão”.

Em relação aos AVCs ou outros quadros de instalação súbita (ex: traumatismo crânio-encefálico), deve-se suspeitar de afasia quando, após o dano cerebral, o paciente passa a ter alguma dificuldade para falar ou compreender a linguagem.

“Os sintomas variam em relação à gravidade, podendo haver pacientes com quadros leves, caracterizados unicamente por uma dificuldade de encontrar termos, gerando pausas frequentes na fala, até casos em que a pessoa não consegue emitir quase nenhuma palavra”, esclarece Maria Teresa.

É uma condição sobre a qual o médico pode alertar o paciente de que pequenas mudanças são merecedoras de investigação. O diagnóstico das afasias é clínico, utilizando de testes para avaliar a linguagem e comparando o desempenho com o que é esperado para sua idade e escolaridade.

Geralmente, o neurologista faz o diagnóstico clínico investigando as causas da lesão cerebral e os exames complementares, que incluem avaliação fonoaudiológica com o detalhamento do funcionamento da linguagem. Às vezes, as alterações são muito leves e podem não ser percebidas por profissionais não especializados.

A queixa do paciente (sua própria percepção das dificuldades de linguagem e comunicação) e observações dos familiares devem ser valorizadas. É importante que o quadro seja diagnosticado precocemente e que se inicie a terapia o quanto antes, para melhor sucesso do tratamento.

TRATAMENTO E RECUPERAÇÃO

O tratamento para a afasia é realizado por fonoaudiólogo, que irá avaliar e reabilitar as funções linguísticas prejudicadas. Não há um tratamento medicamentoso efetivo para a afasia, mas os pacientes devem ser acompanhados por um médico neurologista para monitorar a lesão cerebral e condição clínica.

Outros especialistas também podem fazer parte da equipe de cuidados, pois o paciente pode precisar de atendimento em suas necessidades de base. A terapia realizada por fonoaudiólogo consiste em reabilitação com atividades desenvolvidas especialmente

para a pessoa com afasia, considerando-se o tipo de afasia, prognóstico (forma de evolução) e características individuais do paciente (usos da linguagem e comunicação no dia a dia, lazer, ocupação etc). 

SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE

Há muita variação dos serviços públicos disponíveis para pacientes com a condição, mas, em geral, a demanda é maior do que os serviços disponíveis. O tratamento com fonoaudiólogo pode ser procurado em universidades que tenham o curso de fonoaudiologia.

“Se o paciente teve um quadro agudo (como AVE ou Traumatismo crânio-encefálico) deve solicitar à equipe médica que o atendeu um encaminhamento para um Centro Especializado em Reabilitação (CER) ou, se não disponível em sua região, outros serviços públicos (Unidades Básicas de Saúde, Centros de Especialização, clínicas escolas de universidades pública, Centros de Convivência)”, sugere Maria Teresa Carthery-Goulart. Recomenda-se contato com o Conselho Federal de Fonoaudiologia (CRFA), que pode ajudar a identificar serviços disponíveis em cada região.

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