Os resultados de dois estudos prospectivos veiculados na Neurology Today mostram que, na ausência de lesão cerebral estrutural, os pacientes sedados e intubados durante a primeira onda da pandemia de COVID-19 se recuperaram e melhoraram. Eles só precisaram de cuidados clínicos e maior tempo para recuperação. Vale destacar, aliás, que as taxas de recuperação foram tranquilizadoras e, em alguns casos, surpreendentes.
 
O primeiro estudo, publicado online em 7 de março de 2022 no Annals of Neurology, envolveu 795 pacientes que necessitaram de intubação endotraqueal por ao menos sete dias. Para os 571 pacientes que passaram a obedecer comandos, o tempo médio de recuperação foi muito maior do que o normal para pacientes com outras doenças que requerem intubação: 30 dias. Todavia, quase metade dos que se recuperaram foram liberados para casa ou enviados a um centro de reabilitação.
 
Outro estudo, de 21 de março da Neurology, relata as trajetórias de recuperação neurológica em 174 pacientes hospitalizados por COVID-19 e que completaram acompanhamentos tanto de seis como de doze meses. A conclusão mais preocupante foi que, aos 12 meses, 87% dos pacientes ainda apresentavam pelo menos uma alteração em medidas funcionais, cognitivas, emocionais ou de qualidade de vida; metade deles ainda apresentavam cognição alterada, a despeito de não haver história prévia de distúrbio cognitivo.
 
Pelo lado positivo, o mesmo estudo mostrou que 56% dos pacientes apresentaram melhora significativa nos testes cognitivos do 6o para o 12o mês.
 
Mais um achado interessante: a encefalopatia ou outras complicações neurológicas durante a hospitalização não aumentaram a probabilidade de ter disfunções cognitivas, emocionais ou outras em comparação com aqueles que não tiveram complicações neurológicas durante a hospitalização, exceto pelo aumento de fadiga.