Um dos destaques da edição xx da Dementia & Neuropsychol, o artigo Treatment of the behavioral variant of frontotemporal dementia:a narrative review Ă© comentado pelo seu autor principal, o mestre em neurociĂȘncias, psiquiatra e psicogeriatra, Leandro Boson Gambogi.
Quais as principais classes de fĂĄrmacos estudados no tratamento da variante comportamental da demĂȘncia frontotemporal (vcDFT)?
Foram os antidepressivos serotonĂ©rgicos, especialmente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e a trazodona, alĂ©m dos inibidores da acetilcolinesterase (IAChEs), a memantina, os antipsicĂłticos atĂpicos, os psicoestimulantes e os anticonvulsivantes.
Como define o papel dos inibidores da acetilcolinesterase (iAChE) no tratamento da vcDFT?
Diferentemente da doença de Alzheimer, a vcDFT tem relativa preservação do sistema colinĂ©rgico e, portanto, nĂŁo Ă© de se esperar que os inibidores da acetilcolinesterase (IAChEs) tenham qualquer papel em sua terapĂȘutica. De fato, exceto em um estudo aberto com rivastigmina, esses medicamentos nĂŁo melhoraram cognição ou comportamento e atĂ© pioraram os sintomas dos pacientes em algumas publicaçÔes. A memantina tambĂ©m tem resultados negativos para manejo da vcDFT e nĂŁo hĂĄ indicação para seu uso. No entanto, a despeito das evidĂȘncias contrĂĄrias, cerca de 40% dos pacientes diagnosticados com vcDFT acabam por usar IAChEs ou memantina em algum momento do tratamento.
Para cada sintoma âcoreâ da vcDFT – desinibição comportamental, apatia, hiperoralidade, comportamento compulsivo/perseverativos, perda de empatia, quais as opçÔes de estratĂ©gias terapĂȘuticas?
Os sintomas cardinais (âcoreâ) da vcDFT sĂŁo estritamente comportamentais e/ou vinculados Ă cognição socioemocional. Para cada um deles existem evidĂȘncias, ainda que frĂĄgeis, para a abordagem farmacolĂłgica. As principais alternativas estĂŁo baseadas em relatos de casos, sĂ©rie de casos e poucos ensaios clĂnicos randomizados e controlados (ERCs). A desinibição tem nos antidepressivos, especialmente os ISRSs e a trazodona, os melhores resultados de tratamento, evidenciados em relatos e sĂ©ries de casos, estudos abertos e ERCs. Devido ao risco de efeitos colaterais extrapiramidais e indĂcios de melhora apenas em estudos de baixa qualidade, os antipsicĂłticos atĂpicos devem ser evitados para controle da desinibição. A hiperoralidade melhorou em um ERC com trazodona, o que sugere o fĂĄrmaco como a melhor opção. O topiramato pode ser uma escolha, mas cuidados especiais devem ser tomados quanto Ă piora cognitiva. A
apatia foi tratada com psicoestimulantes, anfentamĂnicos (ERC) e metilfenidato (relato de caso), com resultados positivos. O comportamento compulsivo/perseverativo respondeu melhor Ă s medicaçÔes serotonĂ©rgicas, novamente ISRSs e Trazodona, em sĂ©ries de casos, estudos abertos e ERCs. A perda de empatia melhorou sob o uso de ocitocina em dois ERCs e em um estudo piloto com Fortsyn Connect Âźïž, mas ainda Ă© cedo para a inserção do medicamento ou do nutracĂȘutico na prĂĄtica clĂnica.
Que recomendaçÔes hå de tratamento não-farmacológico para os sintomas comportamentais em vcDFT?
O tratamento nĂŁo-farmacolĂłgico deve ser encorajado e suas principais recomendaçÔes sĂŁo a musicoterapia e uma intervenção especĂfica da terapia ocupacional para pacientes com demĂȘncia e seus cuidadores, a Tailored Activity Programs â TAP-BR). No entanto, as evidĂȘncias para o tratamento nĂŁo-farmacolĂłgico da vcDFT ainda sĂŁo fracas.
Existem boas perspectivas futuras de tratamento modificador de doença em vcDFT?
A heterogeneidade dos substratos neuropatolĂłgicos e genĂ©ticos envolvidos na vcDFT dificulta a investigação de fĂĄrmacos e tratamentos que possam modificar a histĂłria natural da doença. De toda forma, hĂĄ uma compreensĂŁo maior do assunto e ensaios clĂnicos com medicamentos com potencial efeito modificador de doença estĂŁo em curso. Isso posto, os principais alvos terapĂȘuticos das pesquisas atuais sĂŁo: prevenção de agregados de tau (inibidor de agregação, inibidor de acetilação e imunoterapias para redução de agregados); prevenção da perda de funcionalidade de tau; eliminação de agregados de proteĂna 43 de ligação ao DNA de resposta transativa (TDP43); prevenção da acĂșmulo de proteĂnas da famĂlia FET (Fused in sarcoma, Ewing sarcoma e proteĂna de ligação Ă TATA); elevação ou restabelecimento dos nĂveis de progranulina e supressĂŁo da expressĂŁo de genes nocivos.