Muito foi feito até o presente momento. Em nome da garantia dos direitos das mulheres, trilhamos caminhos tortuosos e inimigos ferozes; e ainda hå uma longa etapa a percorrer.
Contudo, Ă© inegĂĄvel que elas ganharam vez e voz na sociedade em geral e na neurologia com o decorrer dos anos.
Nesse contexto, a The Lancet, conceituada revista cientĂfica de medicina, publicou artigo que reverbera atĂ© hoje. O tĂtulo Ă© â2020: a critical year for women, gender equity, and healthâ; destaca a necessidade de orientar as mulheres da ĂĄrea da saĂșde sobre a importĂąncia de trabalhar sempre pela igualdade de gĂȘnero.
The Lancet considera o ano de 2020 um marco por simbolizar os 25 anos da ConferĂȘncia Mundial das Mulheres, ocorrida em Pequim (China) em 1995. Ă Ă©poca, o centro dos debates foi a igualdade de gĂȘnero na promoção da justiça social e do desenvolvimento sustentĂĄvel.
Por esses e outros motivos, 2020 Ă© tratado como momento Ămpar Ă reflexĂŁo, ao comprometimento e Ă ação sobre a temĂĄtica.
Sonia Brucki, livre-docente em Neurologia, membro titular e da ComissĂŁo de Ensino da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), acredita que hĂĄ um movimento crescente para alcançar uma equidade entre os sexos na saĂșde.
âVĂĄrios estudos tĂȘm relatado a diferença quanto ao nĂșmero de palestrantes homens, desproporcional ao de mulheres em determinadas ĂĄreas, bem como diferença salarial e a rara presença das mulheres em postos de comando ou de projeçãoâ, pontua.
AliĂĄs, a desigualdade entre homens e mulheres afeta diretamente o campo da saĂșde. De acordo com o relato da Organização das NaçÔes Unidas para a Educação, a CiĂȘncia e a Cultura (UNESCO), somente 28% dos pesquisadores no mundo sĂŁo mulheres. Esses dados colidem com um cenĂĄrio de âfeminização da medicinaâ no Brasil: em 2017, tĂnhamos 45,6% profissionais eram do sexo feminino, segundo dados da Demografia MĂ©dica no Brasil, do Conselho Federal de Medicina.
Sociedades mĂ©dicas tĂȘm discutido sobre como lidar e alcançar a equidade entre os sexos. Entre as instituiçÔes comprometidas a mudar a realidade, a ABN destaca-se com iniciativas promissoras. Desde 2019, formou o grupo âMulheres na Neurologiaâ, que busca o estudo e discussĂŁo sobre as atividades das mulheres no campo.
Coordenadora do projeto, Sonia afirma que conta com o apoio do atual presidente da academia, Gilmar Prado, e enfatiza os objetivos gerais: âQueremos abordar a neurologia como profissĂŁo, as diferenças na visibilidade por gĂȘnero nos estudos, congressos, cargos e em salĂĄrios. AlĂ©m disso, discutir a participação em eventos, liderança, condiçÔes das mulheres nas vĂĄrias fases desde a formação acadĂȘmica ao exercĂcio da profissĂŁo, entre outros pontosâ, conclui.
Em 2019, o painel âWomen in Neuro Science Congressâ foi relevante passo da ABN no combate Ă desigualdade de gĂȘnero na especialidade:
âA primeira edição foi feita com pesquisadores de doenças desmielinizantes e, em 2020, abrangerĂĄ diversas subĂĄreas da especialidadeâ, comenta a neurologista. Esse ano, o â2nd Women in Neuro Science Congressâ acontecerĂĄ entre os dias 6 e 7 de março, em SĂŁo Paulo.
Equidade significa crescer junto, tendo igualdade de oportunidades, direitos e deveres. Para Sonia, colocar o assunto em pauta Ă© indispensĂĄvel.
âĂ essencial mapear como estĂĄ nossa condição no Brasil para podermos diminuir estas diferenças. Ă necessĂĄrio discutir o papel da mulher na neurologia desde a formação universitĂĄria, durante a residĂȘncia e na vida profissional. Ă isso que estamos fazendoâ.
Para finalizar, Sonia relembra uma frase de Michael Gazzaniga sobre a falta de diferenças âIf you were recording electrical impulses from a slice of the hippocampus in a dish and you were not told if the slice came from a mouse, a monkey, or a human, would you be able to tell the difference? Isso serve igualmente para homens, mulheres, homossexuais, transgĂȘneros, raças, todos humanosâ.