A Academia Brasileira de Neurologia hĂĄ dĂ©cadas perfila ao lado das mulheres nas lutas por igualdade de oportunidades profissionais e remuneração, contra violĂȘncia domĂ©stica, contra o assĂ©dio e as distintas manifestaçÔes de discriminação por gĂȘnero, sĂł citando algumas.
Internamente, aliås, especialistas associadas a ABN formam uma Comissão Mulheres na Neurologia, atuando diuturnamente por mais avanços. Organicamente o grupo existe desde 2019, mas muito antes disso jå atuava.
A coordenadora SÎnia Brucki conta que um dos motivos da criação da Comissão foi a insatisfação com o fato de diversas mesas em Congresso serem compostas somente por homens, quando as médicas jå eram quase metade do corpo da Medicina.
âNa Neurologia nĂŁo Ă© muito diferente e ainda temos uma caminha grande. SĂł duas mulheres foram presidente da ABN. PouquĂssimas sĂŁo as professoras titulares nos departamentos nas universidades. Portanto, Ă© longa a estrada em direção Ă equidade de sexo. Por vezes as prĂłprias mulheres tĂȘm posiçÔes machistas e sustentam o status quo. Ainda hĂĄ a situação de que a Ășltima palavra Ă© do homem ou de que seja corrigida ou cortada nas opiniĂ”es. Paternalismo tambĂ©m Ă© uma forma de considerar o outro meio desprotegido ou incapazâ.
Pesquisa
A princĂpio, a ideia da ComissĂŁo era focar todas as situaçÔes de desigualdade e abusos, porĂ©m a adesĂŁo entre as prĂłprias mulheres ficou aquĂ©m do esperado. Recentemente, houve duas enquetes com as membros da ABN para compreender o cenĂĄrio globalmente. Os dados estĂŁo em fase de consolidação e brevemente serĂŁo divulgados.
âTemos diferenças em relação a cargos de liderança, mesas em congressos e aulas, bem como em comissĂ”es organizadoras de eventos congressos. Isso tem que ser combatido Ă© eliminado. Igualdade entre os sexos tem de ser prevalente, obedecendo-se o nĂșmero de participantes em determinada subespecialidade. Queremos igualdade e respeitoâ.
Movimento
Hoje, se observarmos os cargos de direção em associaçÔes mĂ©dicas e outras entidades associativas, Ă© notĂłria a pouca representatividade feminina. De acordo com levantamento da Faculdade de Medicina da USP, endossado pelo estudo Demografia MĂ©dica do Conselho Federal de Medicina (CFM), desde 2009 o nĂșmero de mĂ©dicas que saem da graduação, no Brasil, tem sido maior que o de homens.
Entre os profissionais com menos de 29 anos de idade, as mulheres jĂĄ sĂŁo a maioria. Os postos de chefia, de professor, ou de prĂĄtica clĂnica nĂŁo condizem ao nĂșmero de graduadas e/ou das ainda em formação.
âAtĂ© na ABN isto pode ser observado, vide o Conselho Deliberativo e outros fĂłruns de decisĂŁoâ, argumenta Elza Dias Tosta, neurologista, PhD e ex-presidente da Academia.
O grid de largada para mudanças, as mulheres bem sabem, chama-se luta. à ainda indispensåvel a democracia, a garantia de liberdade de expressão, o contraditório, além de humildade para realinhar quando preciso.
Essas sĂŁo premissas na Academia Brasileira de Neurologia que, no decorrer dos anos, mais e mais sustenta a bandeira de igualdade de gĂȘneros. Elza ilustra bem como certas mudanças sĂŁo concretas e para sempre, ao recordar de sua vivĂȘncia na Medicina.
âĂramos seis em um universo de 80 alunos que entraram na Faculdade de CiĂȘncias MĂ©dicas da UEG/ Estadual do Rio de Janeiro, em 1963. Ănica residente da Neurologia, comecei a sentir as primeiras resistĂȘncias a minha escolha profissional. Tive que ouvir de professor: âVocĂȘ acha que alguĂ©m vai confiar sua cabeça a uma mulher?ââ.
Faz tempos, ela recebeu convite para participar da Associação das Mulheres MĂ©dicas, recusou: âSou graduada em Medicina, independentemente do gĂȘneroâ.
Em diversas outras ocasiÔes, Elza teve portas fechadas, ela pontua, por ser mulher.
SĂł que as coisas mudam: aqui, todos os mĂ©ritos a elas. Ă fruto da resistĂȘncia de milhĂ”es de mulheres pelo mundo, de milhĂ”es no Brasil, a luta de tantas anĂŽnimas e outras que jĂĄ sĂŁo histĂłria, a inquietude de mĂ©dicas, de neurologistas etc.
Em dĂ©cadas recentes, a participação de mulheres na Neurologia Ă© crescente, firme e determinante. Aos poucos elas ocupam espaços relevantes. Atualmente, temos especialistas brasileiras em postos-chave da World Stroke Organization (WSO), do CapĂtulo Latinoamericano da Federação Internacional de Neurofisiologia ClĂnica, da International Society of Peripheral Neurophysiological Imaging (ISPNI), entre outras.